‘Escola deve usar redes sociais com foco educativo’, diz especialista
Educadores debatem tema em congresso de tecnologia no Recife.
Para eles, não se deve misturar contas pessoais com as de estudo.

Rosana Maia diz acreditar nas redes sociais no ensino,
mas com alguns limites (Foto: Gabriela Belém, G1 PE)
Quando se trata de novas alternativas no processo de aprendizagem para
agradar a geração pós-Internet, começa a existir um consenso entre os
educadores: não adianta ir contra a maré do fenômeno das redes sociais. O
assunto, que ainda provoca muita polêmica dentro e fora dos meios
digitais, foi tema de palestras e minicursos durante o 10º Congresso
Internacional de Tecnologia na Educação, realizado no Centro de
Convenções de Pernambuco, em Olinda, nesta quarta-feira (5).
No evento, foi apresentada uma rede social totalmente voltada para fins educativos, a Redu, desenvolvida por uma startup recifense incubada no parque tecnólogico do Porto Digital, na capital pernambucana.
"Existe uma necessidade social que não pode ser ignorada pelos
educadores. Precisamos adaptá-la para as salas de aula. Os próprios
professores não utilizam as redes sociais entre si. Se conseguíssemos
incluí-las já no currículo da formação inicial dos docentes, seria
ideal. A vida da escola não pode ser separada da nossa vida social. Uma
faz parte da outra", opina a sergipana Rosana Cavalcanti Maia Santos, 24
anos, mestranda em Educação para as Ciências e graduada em Física pela
Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (Unesp).
Com a polêmica gerada em razão do "Diário de Classe", elaborado pela
estudante Isadora Faber, de 13 anos, que conseguiu, por meio das redes
sociais, pressionar o governo para conseguir melhorias importantes em
sua escola, desde o final de agosto, o tema foi um dos destaques do
evento. O sucesso da iniciativa da aluna, que conseguiu uma reforma de
emergência na escola onde estuda e uniu pais, alunos e professores, tem
servido de inspiração para crianças, adolescentes e jovens de todas as
partes do país.
O grande desafio na utilização das redes sociais para integrar a
relação entre alunos e professores ainda é a falta de conhecimento dos
próprios educadores e dirigentes das escolas que, em geral, não sabem
usar as ferramentas em favor da educação. "O professor não é mais o
único detentor da informação. Ele tem de aprender a conviver com isso e
precisa ter a noção de que não sabe tudo. É uma área que ainda terá
muitos desafios pela frente", diz Rosana.
Bacharel em Física, Maia relatou à reportagem do G1
que, inclusive, já recebeu reprimendas em razão de ter usado a
tecnologia para inovar em sala de aula. "A diretora da escola bloqueava o
uso que eu fazia de tecnologias com os estudantes, por exemplo. Uma vez
quis fazer uma aula interdisciplinar. Apresentei um powerpoint e um
vídeo, explicando como era feita a curva num chute de uma partida de
futebol, para sete alunos que estavam na recuperação e já não aguentavam
mais fazer as mesmas questões. Levei uma bronca por conta disso",
afirmou.

Alex Sandro Gomes desaconselha o uso de redes sociais
genéricas na aprendizagem (Foto: Gabriela Belém, G1 PE)
genéricas na aprendizagem (Foto: Gabriela Belém, G1 PE)
A resistência ainda é um empecilho para os que querem inovar --mas a
inserção no mundo das redes sociais é um caminho sem volta, segundo o
especialista no assunto, Alex Sandro Gomes, Doutor em Ciências da
Educação pela Universidade de Paris V, Mestre e Especialista em
Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e
graduado em Engenharia Elétrica também pela UFPE. "Para a escola
continuar desenvolvendo o conhecimento das pessoas, terá de se apropriar
deste novo artefacto".
"Em primeiro lugar o professor tem de se apropriar da situação. E por
que há a adesão nas redes sociais? Porque as pessoas criam grupos. É
preciso criar uma relação didática com a comunidade. Ao criar uma rede
de relacionamentos, eu posso dispor de material informal antecipadamente
que vai ser passado nas próximas aulas. Se eu fizer isso, já crio uma
consciência e um novo canal de contato com o aluno. Sem falar que posso
permitir que os alunos tragam novos materiais. E posso deixar que eles
discutam os temas depois das aulas. Assim, o professor legitima o papel
do estudante na aprendizagem", aponta o estudioso.
"Na sala de aula, a comunicação é de um (professor) para muitos
(alunos). As redes sociais devem proporcionar formas de comunicação que
aproximem professores e alunos. Atualmente, todos precisam, juntos,
aprender a aprender. A mediação do professor em redes sociais tem um
papel diferente. É possível se trabalhar no foco dos problemas e dúvidas
com o monitoramento. Agindo com mais ênfase, por exemplo, no que a
turma mais precisa (e de acordo com as notas)".
Dispersão dentro e fora da sala de aula
Em rede sociais genéricas, como o Facebook, o Twitter, o Pinterest e o
app Instagram, o especialista desaconselha o uso de materiais das aulas
pelo risco da dispersão. "Aconselho o uso de redes sociais como a Redu,
totalmente voltada para fins educativos. Quando um aluno usa a sua conta
pessoal, do âmbito privado, vai estar se comunicando e compartilhando
informações com todas as outras relações dele. Isso gera a dispersão",
explica Alex.
Com relação ao excesso de exposição e à falta de privacidade, que podem
interferir na relação entre professor e aluno, Maia também concorda que
há limites. "Acho que, antes de se criar essa relação, é preciso impor
limites e respeito em relação ao professor. Eu faria um perfil exclusivo
meu para lidar com os alunos, separando-os da esfera da minha vida
pessoal. Se misturar tudo, acredito que fica um pouco complicado. A
relação via redes sociais é favorável, mas é preciso ter limites", diz.
Vantagens das redes sociais
Confira
algumas das vantagens apontadas pelo professor Alex Sandro Gomes,
palestrante do congresso, no uso de redes sociais em sala de aula:
1) As redes sociais educativas permitem que o professor monitore as atividades em sala de aula e acompanhe melhor o rendimento dos alunos, de acordo com as disciplinas que eles estão tendo mais dificuldade ou se dando melhor;
1) As redes sociais educativas permitem que o professor monitore as atividades em sala de aula e acompanhe melhor o rendimento dos alunos, de acordo com as disciplinas que eles estão tendo mais dificuldade ou se dando melhor;
2) As redes sociais educativas permitem ao professor ser o autor do seu
planejamento. O professor é um mediador. E a tecnologia tem de permitir
que ele seja um autor deste conteúdo também. O docente deve organizar
melhor as sequências de aulas e materiais;
3) As redes sociais educativas ajudam no desenvolvimento da autonomia
entre os estudantes (também chamada de auto-regulação). Neste ambiente,
o aluno experimenta uma diversidade de situações e precisa aprender que
é preciso ter disciplina para exercitar essa autonomia.
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